Antônio Benedito dos Santos começou a Creme Mel com apenas uma máquina e hoje produz 33 mil picolés e 15 mil litros de sorvete por hora.
Nas longas noites de trabalho como motorista de ônibus em Goiás, Antônio Benedito dos Santos tinha muito tempo para pensar. Nesses momentos de reflexão, de olho na estrada, ele imaginava alternativas para criar algo com as próprias mãos e abrir uma empresa que o fizesse crescer e ganhar dinheiro. “Queria ser responsável por esse negócio, queria fazer algo diferente e com qualidade”, afirma.
Em 1987, pediu demissão e utilizou o dinheiro do FGTS para comprar uma simples máquina de fazer sorvete e picolés. A escolha foi baseada na possibilidade de ficar no controle da produção e venda dos produtos logo de cara. Com a parte de “fazer ele mesmo” do seu plano resolvida, Santos foi atrás do diferencial e da qualidade.
Essas duas últimas partes foram solucionadas com apenas um convite, feito por uma empresa fornecedora de matéria-prima para sorvetes, para o primeiro curso profissionalizante do empresário, em 1988. De lá, ele saiu mais preparado e com uma visão melhor do mercado e de suas possibilidades. Aprimorou a qualidade do seu produto usando apenas frutas frescas e leite in natura e pasteurizando tudo artesanalmente. Esse, por sinal, foi apenas um dos muitos cursos que Santos faria ao longo de sua vida como empresário, o que resultou em diversos certificados, principal decoração das paredes de seu escritório.
A Creme Mel caiu no gosto de Goiânia e foi se expandindo com o capital das próprias vendas – e da eventual venda do carro de Santos. Uma máquina gerou um freezer, que gerou quatro carrinhos para venda, que ampliou a produção da garagem do empresário para tomar conta de sua casa quase inteira. Em 1996, Santos conseguiu comprar o prédio da atual fábrica da marca, com um investimento de R$ 1 milhão.
Sócio do ex-chefe
No mesmo ano em que abriu a fábrica, Santos começou a investir na compra de leite da vaca jersey, que possui um teor de proteínas e gordura mais apropriado para a produção de derivados como o sorvete.
Na busca por novos fornecedores dessa matéria-prima, o caminho do empresário se encontrou com o de seu ex-chefe, Odilon Santos, em 2003, quando este tinha comprado uma fazenda produtora do leite. De fornecedor, Odilon se ofereceu também para ser sócio da Creme Mel, comprando 50% da empresa e ampliando ainda mais sua produção.
Aporte internacional
Neste ano, a Creme Mel deu mais um passo para seu crescimento. A empresa, que já está presente em nove Estados, com setes pontos de distribuição, mais de 950 funcionários e uma produção de 33 mil picolés e 15 mil litros de sorvete por hora, recebeu, em julho, um investimento da H.I.G Capital, gestora americana de private equity. Segundo Santos, o capital, cujo valor não foi revelado, ajudará a construir a nova fábrica da Creme Mel, e a experiência do fundo vai auxiliar na gestão da marca.
Todo esse sucesso, porém, não fez com que o empresário deixasse de ser realista. Mesmo com um faturamento de R$ 96 milhões em 2011 e resistindo à concorrência de grandes marcas, Santos acredita que esse mercado nunca será fácil. “Há muitas empresas com mais tempo e nomes mais estabelecidos. Nosso trabalho sempre vai ser o de formiguinha”, afirma. “A diferença é que agora as pequenas empresas têm mais acesso às mesmas tecnologias e matérias-primas dessas companhias e, assim, mais chance de crescer.”
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