O que, afinal, define os criativos: uma característica inata ou um tipo de comportamento? Ou ambos?
Por Jack London
Você já ouviu falar no Instituto Karolinska? Trata-se de um dos mais importantes centros de pesquisa da Suécia, com larga credibilidade em todo o mundo.
Os suecos, com sua tradicional precisão, realizaram uma pesquisa com nada mais, nada menos do que 1,2 milhão de pessoas sobre a criatividade. Estamos falando de criatividade real, e não de uma certa mania que já absorvemos de chamar qualquer atividade “interessante” de “criativa”. Outro dia vi um grupo de crianças montando vasos de bonsais, as árvores anãs japonesas, olhando um original e copiando formas e fazeres. Ao meu lado, alguém se arrepiava afirmando “que criatividade, que originalidade”. Observar e copiar, seja o que for, passa longe do conceito de criatividade.
Não é de hoje a suposição de que a verdadeira criatividade se aproxima de um comportamento social especial, que alguns chamam de loucura.
Aristóteles dizia que “aqueles que se tornaram eminentes tiveram todos uma tendência à melancolia”.
Do outro lado perfilam os que afirmam que “para ter sucesso em qualquer profissão exigente é preciso inteligência, entusiasmo, esforço, persistência, compromisso e trabalho árduo”. A frase é de Francis Galton, no livro Gênio Hereditário, que tem mais de 150 anos.
Que tal uma síntese das duas visões, que soma suor e inspiração, baseada no livro Origins of Genius, de Dean Simonton? Vamos a ela:
O que vem a ser a típica criatividade? Ponto por ponto, os principais vetores:
1 – Pessoas criativas são abertas a experiências variadas, exibem uma excepcional tolerância à ambiguidade, buscam a complexidade e a novidade e podem desenvolver uma atenção múltipla, muitas vezes fora de foco.
2 – Exibem uma enorme gama de interesses, que vão além de sua área de atuação.
3 – Têm muito mais probabilidade de serem introvertidos do que extrovertidos e parecem às vezes distantes, deslocados ou antissociais. Também exibem uma imensa independência e autonomia, frequentemente se recusando a se submeter às normas convencionais, às vezes exibindo uma acentuada faceta de rebeldia.
4 – Amam profundamente o que fazem, demonstrando entusiasmo, energia e compromisso incomuns com seus projetos e concepções.
5 – São persistentes diante de obstáculos e decepções, mas ao mesmo tempo são bastante flexíveis para alterar estratégias e táticas quando assim determina o fracasso.
6 – A criatividade não está necessariamente associada ao fato de atingir altos níveis de educação formal, mas não prescinde de leitura e aprendizado. Muitas vezes esse aprendizado não se dá dentro das escolas formais, burocráticas e repetitivas. Mark Twain, famoso escritor de Tom Sawyer e outras grandes obras, dizia: “Jamais deixei que minhas atividades escolares interferissem na minha verdadeira educação, a leitura”.
Se você ouviu um vento murmurar em seu ouvido… Steve Jobs… você ouviu muito bem, a ele se aplicam todos esses princípios.
Pois muito bem, agora voltamos a Karolinska, citado no início deste texto. O resultado da tal pesquisa com mais de 1 milhão de pessoas afirma taxativamente que a criatividade é uma forma de doença mental, uma espécie de transtorno de comportamento que tem, no âmbito da realidade, aspectos positivos.
Aí está, pois, o dilema, que certamente merece reflexão. Quem estará com a razão absoluta, se existisse razão absoluta: os eminentes cientistas ou os suecos? Ou os dois?
Assim, estamos diante das seguintes alternativas:
1 – Criatividade é fruto de um determinado comportamento individual, que pode ser adquirido ou elaborado.
2 – Criatividade é uma forma especial de loucura, ou você nasce com ela ou nada feito.
3 – Criatividade é um transtorno que só se realiza positivamente com trabalho, disciplina, obsessão e flexibilidade de comportamento.
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